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Veja a matéria que foi feita a partir de algumas entrevistas, entre elas uma com o blog, para a faculdade UniSant'Anna






(Clique na figura para aumentá-la e conseguir ler. Não, eu não sou nenhuma das fotos...rs)

Abaixo a entrevista e as respostas originais...

Você costuma frequentar teatros a preços populares?
 Sim, normalmente é este tipo de peça que costumo assistir. Mas é preciso desmistificar aquilo que chamamos de preços populares. Um jogo de futebol, em São Paulo, tem preços de R$20 a R$30 (preço cheio) então este são valores que podemos considerar populares. Quando falamos preços populares, em geral, nos vem a mente valores de R$5,00. No teatro, em geral, esse valor é impraticável. No entanto não é preciso cobrar R$80, R$100 para sustentar uma peça...

O que acha do projeto do Vale-Cultura?

Acho muito bom. É preciso incentivar a cultura também para o lado do espectador. Costuma-se pensar somente em leis de incentivo a quem produz cultura, e muitas vezes nos esquecemos que há um outro lado... Acho muito interessante a idéia de se pensar cultura como direito do trabalhador. No próprio site do Minc você tem uma comparação aos benefícios que o trabalhador tem em relação ao transporte por exemplo. Essa mudança é estrutural, é de pensamento. Acho louvável que se incentive a cultura como parte da rotina das pessoas.

Acredita que este projeto trará mais consciência cultural às pessoas?

Não. Por sí só não. Mas trás à tona a discussão. O trabalhador terá que pensar em cultura ao menos uma vez por mês, nem que seja só para decidir se vai abrir mão de parte do salário (o Minc diz até 10% do benefício) para a cultura ou não. No entanto é preciso que se faça uma política mais ampla nesse sentido. Aqui em São Paulo se fez a Virada Cultural, a Virada esportiva, no entanto acabaram os shows de domingo no Ibirapuera. Parece pouco mas é grave. Trago de novo a questão simbólica como ponto de partida: A cultura deve ser rotineira ou pontual? As viradas trazem mais mídia ao governo (municipal e estadual no caso) mas os shows de domingo criavam uma rotina de cultura... outro ponto a se discutir é o que exatamente a lei entende por cultura... no geral música, teatro, cinema e esporte são cultura, mas se vamos aos orçamentos veremos que o dinheiro do teatro, música e cinema saem de um lugar e o de esporte sai de outro...

Você gosta de cinema? Que tipo de produções mais te provoca?

Depende do sentido de provocar (risos). Não vejo diferenças provocativas (no sentido de fazer pensar) em tipos diferentes de produções, mas em tipos diferentes de estéticas, de temas. Não sou do tipo que pensa que Hollywood por ser comercial não faz provocações sérias e profundas.... Nem acho que só por ser independente a produção é boa, sagaz. Gosto quando a coisa sai do óbvio, quando alguém pega o Coringa e o transforma num fator de questionamento a respeito da caos ou mesmo quando o batman deixa de ser um herói e passa a se questionar até onde deve ir, se está fazendo justiça ou vingança. Mas gosto também quando um "Habana Blues" filme cubano, de baixíssimo orçamento e distribuição transforma a questão de deixar ou não sua terra em uma questão maior do que o simples lá é bom aqui é ruim ou vice-versa. É preciso relativizar mais os filmes de Hollywood, e também os filmes ditos 'cult'. Não é porque tem dinheiro que é óbvio e contra-producente nem porque não tem será necessariamente questionador...

Sobre o cinema iraniano. O que acha de filmes que tratam de situações corriqueiras e simples de forma elaborada, inocente, mas carregada de política e carga emotiva?

Conheço pouco do cinema Iraniano, conheço apenas os filmes do Abbas. O simbólico é uma arma potente hoje em dia. Você fala de política e ouve que isso não se discute. Então é preciso arrumar outros meios para falar da política. Talvez falando de um menino que busca o colega batendo de porta em porta seja uma forma de dizer que precisamos achar o caminho, fazer por onde mesmo quando não há incentivo político para isso. Ou talvez seja só um menino perdido mesmo, quem sabe? O realismo com o simbólico é uma forma de driblar a censura por lá. Mas pode ser usada por aqui para driblar o 'analfabetismo político', para falar de política sem precisar ouvir que todo político é corrupto.

Se recorda de algum exemplo de produção com este mesmo perfil?

Por incrível que pareça lembro de Hollywood. Do "Lost in Translation" (Encontros e Desencontros, péssima tradução). Fala de um ator em decadência que ao ir gravar no Japão percebe que precisa repensar muita coisa... Nesse sentido (situação corriqueira, inoente mas carregada de política e carga emotiva) acho bem parecido. A diretora consegue trazer a tona discussões profundas a respeito da busca de sentido para a vida mostrando algo que, em princípio, seria normal. Mas certamente há uma linguagem única no cinema iraniano, como há em alguns filmes nacionais.

Já assistiu a algum filme do cineasta Abbas Kiarostami?

Sim, Onde é a casa do meu amigo? e E a vida continua.

Vi em seu blog sua última atualização na qual comenta sobre a "missão" do teatro.
A Soninha, em entrevista, comentou sobre o vale-cultura e como se preocupavam se o trabalhador beneficiado assistiria a peças teatrais ou se preferiria gastar o valor com grandes produções de Hollywood. Ela completou dizendo que ninguém diz ao funcionário o que deve ou não comer com o seu VR. Ou seja, o governo não deve decidir o que é importante, no âmbito cultural, para cada cidadão.
O que pensa a respeito disso? De como as pessoas irão utilizar seu benefício de consumo cultural?

Penso que é muito fácil uma política (porque é governante) passar a responsabilidade para o cidadão. Mas também acho muito fácil para mim (como cidadão) dizer que a responsabilidade é do governo. A questão é mais profunda. É claro que não compete ao governo a tarefa de escolher o que é importante para o cidadão assistir ou deixar de assistir. Mas não escolher, atualmente, já é escolher. A partir do momento em que temos uma cultura de celebridades é muito difícil dizer ao trabalhador que abra mão delas para assistir algo novo, talvez, mais complexo.

Como disse anteriormente é preciso que a cultura passe a ser rotina. Não dá para assistir só às grandes produções cinematográficas, mas também não dá para abdicar delas. A questão é complexa. Acredito que, incialmente, haveria uma 'fuga' para as produções mais conhecidas, mas sendo uma política continuada é possível incentivar o trabalhador a ver outras coisas. Imagine que a Fernanda Montenegro acaba de pegar apoio da Lei Rouanet para um espetáculo a R$15,00, isso é ruim? Não acho. Acho muito bom, fez parte da minha formação como ator assistir ao Paulo Autran, Raul cortez, Marco Nanini. Mas fez parte também assistir espetáculos de rua, grupos amadores, tudo isso é cultura. Então penso que no começo o cidadão "vai tirar o atraso" ver os grandes filmes nos cinemas.

Mas não podemos esquecer que o povo já assiste às grandes produções sem incentivo, de uma maneira ou de outra ele terá maior direito de escolha no âmbito cultural. Cabe aos artistas buscarem incentivos para a divulgação das obras culturais que não contam com as celebridades, principalmente na questão da propaganda porque já se produz muita arte independente, mas as pessoas não ficam sabendo. Caso soubessem poderiam de fato optar, mas isso não ocorre hoje, por isso digo que não direcionar (por parte do governo) já é dar um direcionamento, porque as grandes mídias estão aí, ocupando seu espaço; os alternativos é que precisam, realmente, tornarem-se alternativas culturais, mas para isso é preciso um esforço conjunto do governo com os artistas (principalmente os que não estão na TV)




Acha que seria também importante aproximar as pessoas da arte, promovendo oficinas e cursos?

Essa é uma outra questão. Oficinas e cursos são importantes para formarem os artistas. Hoje só tem uma formação completa (com história da arte, do teatro, estéticas etc.) quem é de classe média e está em SP ou RJ, principalmente. Claro que há exceções. Muito boas por sinal (Wagner Moura, Lázaro Ramos e por aí vai...). Acho que para aproximar as pessoas da arte a arte tem de estar presente nas ruas. Precisa haver museu, exposição, shows, peças de graça.

Precisam haver novelas mais culturais, mais filmes nacionais na TV, mais seriados relevantes em horários populares (não apenas na madrugada porque isso também impede o trabalhador de assistir) tudo isso aproxima as pessoas da arte.

Oficinas e cursos estão faltando demais, mas é uma outra questão, a da formação. Não dá para a Soninha dizer que o governo não pode decidir que produções o cidadão irá assistir se o governo dela não fornece formação cultural de graça ou a baixo custo. Que cursos técnicos de teatro, cinema, dança existem por aí? Pouquíssimos... Então as pessoas se afastam desde sempre da cultura. Aí não há vale-cultural que resolva. Se eu não vejo a arte como meio de vida eu a afasto de mim. Aí vou atrás do que está na minha cara que são as grandes produções. Não podemos formar a classe média e alta na arte e esperar que o público de baixa renda procure filmes alternativos, peças sem atores de TV, isso é surreal.

Eu vejo muito embate em torno da Lei Rouanet mas não vejo em torno da formação dos atores...

É claro que o blog agradece à repórter Sâmia Gabriela pela oportunidade e divulgação da entrevista, mas também não se surpreende com a ligeira distorção devido à falta do contexto da minha fala. Para explicar: na fala em questão eu deixo claro que é fácil para mim culpar o governo e fácil para o governo culpar o cidadão...Mas também não foi assim tão grave,,,

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